Texto a partir de imagem

Texto a partir de imagem

02/11/2020 0 Por Cris Freitas

Uma das atividades que gosto muito de fazer com meus filhos na Educação domiciliar é mostrar uma imagem para que eles usem a criatividade e desenvolvam uma história ou qualquer texto a partir dela. Vou compartilhar uma das histórias mais inusitadas que saiu por aqui. Dei muita risada. Meu filho conseguiu enxergar com os olhos da imaginação e ver algo que acredito não ter sido possível a ninguém mais que já observou La Pont Neuf de Pierre-Auguste Renoir.

As pombas

-Acho que vou me mudar!- disse Clarisse para sua vizinha de poste, Gertrudes.

-Mas por quê?

-Aqui tem muita fumaça, muito movimento, e de vez em quando aparece algum falcão – ela tremeu, pois as pombas da França tem muito medo de falcões.

-Eu também queria me mudar, mas meus filhotes, Júnior e Marcos são muito novos para isso. – continuou Gertrudes.

-Que pena! Mas tudo bem. Acho que vou procurar alguma fazenda para morar, pois o campo é tão bonito e calmo, perfeito para uma pomba. Vou naquela direção – Clarisse levantou as asas e apontou em direção ao norte – Qualquer dia, pode ir lá me visitar, ou venho eu aqui.

-Tudo bem. Então adeus. Saiba que foi muito bom ter você como vizinha.

-Igualmente para você, vizinha. Adeus!

Clarisse levantou voo e deixou permanentemente sua querida casa no poste da Avenida John Smith, onde morara durante toda vida desde que deixara o ninho de sua mãe. Ela tinha um sorriso de satisfação no bico, pois nunca gostara da cidade. Na verdade, ela odiava a cidade. Estava ansiosa para sair daquele lugar, a única coisa que a prendera ali fora sua melhor amiga, Gertrudes. Mas Clarisse tomara sua decisão, não suportava mais a cidade, e partia para o norte, rumo ao campo.

Já havia saído da cidade, estava na área rural. Agora era só achar uma bela árvore para morar, fazer seu ninho e pronto! Viveria muito bem. Em sua frente havia um pequeno bosque, pertencente a uma fazenda. Ela começou a descer em direção ao bosque.

De repente ouviu um tiro seco.

Ela sentiu que perdeu as penas das pontas de sua asa direita, e começou a voar em ziguezague, não em um padrão, mas aleatoriamente, porém sempre em direção à floresta. Fez isso para tentar escapar de outros possíveis disparos.

Outro tiro.

Mas esse passara longe, graças às suas manobras.

Ela conseguiu. Entrou na floresta, aliviada, pois agora estava a salvo.

-Ainda bem… – Ela mal terminou a frase, quando seu sangue gelou. Ela avistou, ao longe, no topo de um pinheiro, um ninho com duas águias. Então, novamente seguiu seu instinto e foi, o mais discreta e silenciosamente possível para a parte mais fechada da mata. Mesmo sendo arriscado para ela própria entrar na floresta, sabia que as águias jamais voariam ali, eram grandes demais.

Ela procurou, procurou e finalmente achou a árvore perfeita. Não era muito alta, com galhos largos e poucas folhas. Fez um ninho improvisado, pois já era noite, planejando continuar o trabalho ao amanhecer.

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Já devia ser umas três horas da manhã e ela não havia conseguido dormir, estava pensando na sua amiga, Gertrudes. Será que fora certo abandoná-la sozinha na cidade? Sabia que era a única amiga da pobre pomba que permanecera na cidade. E vice-versa.

 Ela escutou um ruído bem sutil, mas se levantou e olhou para os lados. Pela segunda vez, seu sangue gelou. Dois pontinhos brilhantes avançavam em direção a ela, no mesmo galho. Levantou voo instantaneamente, não importando se bateria com algum galho ou tronco, pois estava apavorada.

Se tivesse demorado mais um segundo seria tarde demais, ela viu as garras de uma marta passarem raspando em suas perninhas finas. Voou para longe.

A noite era escura na floresta, diferente da cidade, mas ela não parou, até que saiu das copas das árvores e olhou para a lua. Estava aliviada, mas com o coração ainda batendo mais rápido que o normal.

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Gertrudes havia acabado de voltar com o café da manhã de seus filhotes, um leite especial de pomba. Os pombinhos tomavam como se nunca tivessem comido nada na vida, e na verdade, não tinham, apenas tomavam aquele leite, dia após dia.

-Acho que não estou passando bem, estou vendo… – disse olhando para

-Você está muito bem, sim, bem melhor do que eu- disse Clarisse, com uma voz muito cansada.

-Você voltou! – admirou-se Gertrudes.

-Sim!- Disse Clarisse, quando pousou em seu antigo ninho, extremamente cansada, pois voara a noite toda.

-O que aconteceu com você, parece tão cansada?

Clarisse começou a narrar com detalhes a sua aventura na fazenda. Mas na parte em que chegava no pequeno bosque, ela adormeceu, afinal não dormia fazia muito tempo.