Conversando com o medo (salmo 46)
Eu escuto um barulho na escada do apartamento: passos. A cada passo que escuto, sinto um aperto no meu coração. O aperto vai subindo para o meu pescoço, me sufocando: Medo.
Eu imagino que estou conversando com o medo e lhe pergunto: “Porque você está aqui?” Encontro a resposta no Salmo 46.1 e 2: Deus é o nosso refúgio e fortaleza, socorro bem-presente nas tribulações. Portanto, não temeremos ainda que a terra se transtorne e os montes se abalem no seio dos mares;
Eu repito para mim mesma: “O Senhor é meu refúgio e fortaleza, socorro bem presente na hora da angústia. O Senhor é o meu refúgio e fortaleza, portanto não temerei. Se o Senhor é meu refúgio e fortaleza eu não temo. Então, eu não tenho medo, porque o Senhor é meu refúgio e fortaleza.”
Agora, e se eu tenho medo? O que isto significa? Significa que o Senhor não é meu refúgio e fortaleza. Porque se fosse, eu não teria medo.
Eu olho novamente para o Medo, e ele responde a minha pergunta: “Eu estou aqui porque você me convidou para entrar. Porque você não fez de Deus o seus refúgio e fortaleza, e escolheu outros refúgios para você.”
Tudo isto começa fazer sentido para mim. Eu me lembro de ter assistido um documentário que ilustrava isto. Era história de uma garota que era gordinha e sofria bullying das colegas. Mas, um dia ela emagreceu, o bullying parou, ela cresceu e se casou. Mas, agora ela tinha pavor de engordar. E, quando comia, ela vomitava tudo nuns sacos de ziplock que ela guardava no guarda-roupa para esconder do marido.
O medo entrou na vida dela, ele foi convidado para entrar no dia que ela emagreceu. Naquele dia, ela deixou de dizer: “O Senhor é meu refúgio”. Mas, afirmou para si mesma: “Ser magra é meu refúgio e fortaleza, é o meu socorro nos momentos da angústia de bullying. “E esta história sempre se repete, perfeccionistas escolhem deixar tudo em ordem como seu refúgio fortaleza. Alcoólatras, escolhem o álcool, drogados, possuem outra forma de se esconder da dor. Podemos escolher amigos, parentes, hobbies, e a lista segue…
Mas é bom lembrar que o medo não chega só com os problemas. As vezes ele chega quando tudo dá certo. Quando o sábio se dá bem com a sua sabedoria, quando o forte vence por causa de sua força, quando o rico se livra por causa do seu dinheiro (Jeremias 9.23-24, Salmos 146.3). Nestes momentos em tudo está bem, abrimos a porta para esse perigoso inimigo, o medo. E, então, quando nossos falsos “deuses” se quebram, ouvimos a face assustadora do medo.
O som de passos na escada desaparecem. Mas, sinto que há alguém na minha porta do meu apartamento. Eu abro a porta: não há ninguém. Fecho a porta, mas o medo já entrou. Eu olho para o medo e vejo algo como o rosto de um vampiro. Os vampiros podem ser assustadores num filme de terror, mas mesmo eles estão debaixo de uma lei: vampiros não podem entrar em sua casa se você não os convidar a entrar.
Então, eu faço para mim mesma perguntas libertadoras, perguntas capazes de derrotar o meu inimigo:
Quando foi que eu convidei o Medo a entrar?
Quando foi que eu escolhi um refúgio feito de areia?
Porque, agora mesmo, não escolho Deus como meu refúgio e fortaleza?