Marvin, o beija-frutas

Marvin, o beija-frutas

20/07/2020 2 Por Cris Freitas

No meio da floresta, os beija-flores estavam em festa. Depois de um gelado inverno, finalmente, as primeiras floradas estavam surgindo. Voavam e revoavam, de flor em flor, com a alegria própria da primavera, espalhando, por onde passavam, o néctar que se apegava às suas pequeninas penas. Eles eram azuis, amarelos, verdes e coloriam o céu tornando a atmosfera da floresta, outrora pálida e triste, numa explosão de alegria. O seu Jabuti comentou:

– Muito bem, beija-flores! Se continuarem assim, teremos um banquete e tanto de frutas logo em breve! Não sei o que seria de nós, sem o seu trabalho magnífico de polinizar todas estas flores.

Os dias passaram e a alegria continuava. Assim como havia predito o seu Jabuti, as primeiras frutas começaram a surgir. Pássaros e animais terrestres logo vinham provar as delícias que as árvores tinham a oferecer.

Marvin, o beija-flor, entretanto, já estava cansado de polinizar flores, achava tudo aquilo monótono demais. Passar a vida toda fazendo, sempre, a mesma coisa, não era uma ideia que lhe agradava. Ele gostava de experimentar o diferente, novas aventuras, para sair do tédio. Resolveu, então, empertigar-se pela floresta.

Enquanto procurava algo para se distrair, encontrou o seu Lagarto:

– E aí beija-flor, como vão as coisas? Sua cara não está das melhores!

– Tudo na mesmice de sempre, beijando flores e flores. Isso me cansa, sabe?!”

-Ah, você é dos meus! Não gosta de fazer apenas o que te mandam, não é?! Vejo que está precisando de novas experiências! Muito interessante… Tenho uma sugestão para você: porque não experimenta, ao invés de flores, beijar as frutas? São mais suculentas e gostosas…

-As frutas?! Nunca havia pensado nisso…

-Pois deveria, elas são muito melhores! Se eu fosse você, não pensaria duas vezes!

Marvin hesitou por um momento, mas quanto mais pensava na sugestão do Lagarto, mais seu desejo e curiosidade cresciam, até se tornarem irresistíveis. Voou até a primeira árvore e procurou uma fruta madura. Começou a experimentá-la com pequenas bicadas. Sentiu, então, aquela polpa suculenta e adocicada. Era deliciosa! Não conseguia parar de provar. Depois de tanto comer, voltou, voando com um pouco de dificuldade, para perto de seu bando.

Chegando lá não se conteve, começou a contar para todos os seus amigos a nova experiência que havia vivido. Muitos ficaram curiosos e queriam saber mais sobre sua história. A empolgação de Marvin contagiava aqueles que ouviam, convencendo-os de que era algo que valia a pena tentar. No dia seguinte, ele chamou alguns dos amigos para ir junto com ele, e lá se foram para viver esta nova aventura.

Os beija-flores mais velhos, ao saberem do que estava acontecendo, ficaram preocupados e pediram uma reunião com o bando, ao entardecer. Durante a reunião, um deles questionou Marvin:

-O que está acontecendo, meu jovem? Soube que anda apresentando um comportamento diferente do que temos ensinado a vocês.

Marvin respondeu em um tom, um tanto rude:

– Eu e meus amigos decidimos que daqui para frente não seremos mais beija-flores e sim beija-frutas! Passamos a vida toda polinizando as flores, e já estamos cansados disso! Vocês não podem nos impedir!

-Realmente não podemos – disse, com longanimidade, a ave anciã – aqui cada um é livre para viver sua vida e fazer suas escolhas. Tudo o que ensinamos a vocês, desde pequenos, segue uma ordem superior, que tem como objetivo principal, zelar pelo nosso próprio bem-estar e o de toda a floresta. Entretanto, não podemos obrigar ninguém a obedecer. O que podemos e devemos fazer é alerta-lo para as sérias consequências desse seu novo estilo de vida.

– Não me importo, estou feliz assim! E é só isso o que me interessa!

Apoiado pelos amigos, Marvin saiu, dando as costas ao resto do bando que o olhavam entristecidos e apreensivos.

Os dias passaram e, cada vez mais beija-frutas surgiam atraídos pela satisfação prometida.

Entretanto, algo começava a incomodar os demais animais da floresta. As frutas, tão abundantes no início da estação agora pareciam mais difíceis de encontrar. Muitos deles, inclusive, não conseguiam o suficiente para alimentar suas famílias.

Leia o emocionante final dessa história no livro “O bom tesouro do coração”

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